Ao iniciar uma conversa cujo tema é o escritor de quadrinhos Grant Morrison, existe uma série de tópicos facilmente selecionáveis. Muitos gostam da abordagem fofoca guerrilheira, que enfoca a célebre pendenga entre Morrison e o também escritor Alan Moore.
Parcela significativa escolhe o argumento etílico/alucinógeno, enquanto outros curtem mais o visual casaco de couro com tachinha e chicote. Há quem prefira falar de sua cabeça raspada e, em menor escala, os que preferem falar sobre o que ele escreve e não do que escrevem sobre ele.
Por mais que aprecie conversas sobre calvície e sadomasoquismo, acho mais seguro falar da série “Os Invisíveis”, escrita por Morrison entre 1994 e 2000, e que está chegando encadernada às nossas bancas.
A história reúne um grupo bem interessante de personagens. Dane McGowan é um adolescente revoltado que é recrutado para fazer parte de um grupo chamado “Os Invisíveis”.
A equipe é formada, entre outros, por Lord Fanny, um travesti brasileiro, o sem teto Tom O’Bedlam, e Ragged Robin, uma mulher com poderes psíquicos. King Mob é um assassino que assume parcialmente a função de líder.
Para muitos críticos, o trabalho sofre por ter a cara dos anos 90, respirando muitas temáticas e manias da época, como o pós-modernismo. A inclusão de insetos gigantes alienígenas e teorias da conspiração reforçam esse argumento.
Por outro lado, refletir seu tempo é uma maneira de garantir que uma obra seja relevante, principalmente tratando-se de “cultura pop”.
Morrison é, sem dúvida, um dos autores mais importantes do gênero. Suas histórias conseguiram dar algum sabor especial a personagens conservadores como o Super-homem (Grande Astros Superman), adicionar uma nova camada a uma personalidade já fracionada (Asilo Arkham) ou criar uma bela fábula antibélica (WE3).
Mas foi seu apreço pela metalinguagem, pelo ocultismo e vida extraterrestre que ajudou a transformá-lo em um mito da indústria. Flex Mentallo e as séries Doom Patrol e Animal Man, ainda hoje, permanecem como exemplo de originalidade e experimentação dentro do gênero.
Mas “Os invisíveis” é um passo adiante, como se todos seus questionamentos existenciais, espirituais e sexuais estivessem concentrados. Se em Animal Man ele conversa pessoalmente com o personagem, aqui ele está dividido em todos, apesar de King Mob ser sua representação gráfica.
Uma rápida pesquisa na internet pode confirmar a importância dessa série dentro do universo dos quadrinhos. Existem fóruns dedicados exclusivamente à discussão das referências criadas por Morrison, inclusive de maluquices esotéricas que acompanharam sua correspondência com os leitores durante a publicação original.
Morrison chegou a afirmar que parte de “Os Invisíveis” havia sido escrito com informações obtidas com alienígenas que o haviam abduzido em Katmandu, o que ele mesmo acabou desmentindo posteriormente.
Outro momento memorável foi a convocação dos leitores para uma “wankathon” (algo como punhetatona) onde os participantes se concentrariam em um símbolo mágico durante o orgasmo. O resultado seria o aumento das vendas para garantir a continuidade da publicação.
Deixando o folclore de lado, ainda existem toneladas de referências a serem apreciadas, muitas delas de cunho político. A orientação anarquista dos membros da equipe não deve ser ignorada, assim como sua aversão às “autoridades” e governo.
O primeiro volume de “Os Invisíveis” traz as edições de 1 a 8 em uma brochura de 236 páginas ao custo de 25,90 Pilas. A Panini promete relançar a série completa, mas não revela a periodicidade nem o número de volumes. Caso siga a formatação de compilação original, serão sete ao todo.